Avalie este item
(0 votos)

Resignação, no dicionário, é o mesmo que aceitação, uma condição de estar submisso ao desejo e vontade de outra pessoa ou ação do destino.

Resignado é um adjetivo que caracteriza o indivíduo que aceita pacificamente algo, sem opor-se, queixar-se ou demonstrar qualquer tipo de resistência a determinada situação imposta.

A pessoa resignada é dada como conformada, pois não luta contra as adversidades que possam estar a dificultar a sua vida. Aliás, é comum referirmo-nos a uma pessoa como resignada quando esta aparenta suportar um mal sem revoltar-se, agindo de modo conformista em relação a sua situação, não lamentando sua sorte.

O ato de resignar-se corresponde à ação de despedir-se ou abdicar-se de determinada coisa por livre e espontânea vontade, assim como a demonstração de tolerância, paciência e submissão em relação ao comando, ordem ou desejo de outrem. A pessoa resignada age com passividade, sujeição e renúncia.

A resignação tem duas faces. Num sentido negativo, podemos entender como ação de submissão, não se rebelar nem protestar e ainda conformar-se com o que tem, apesar de não gostar ou sofrer. Por outro lado, a resignação pode acontecer como um sinal de força e de aceitação natural diante de uma adversidade (aceitar com firmeza o que a vida oferece e adaptar-se da melhor forma possível).

Algumas escolas filosóficas da antiguidade recomendaram a resignação como uma atitude vital. Mais especificamente, os estoicos propunham que devíamos enfrentar o destino com naturalidade e com resignação. Esta visão estoica baseava-se na ideia de que toda ordem de realidade e todos os acontecimentos ocorriam por algum motivo, diante disso, o melhor a fazer era não se rebelar diante dos desígnios da razão universal ou de qualquer força superior, por exemplo: “devemos pensar antes de fazer qualquer coisa”.

Fala-se muito em resignação cristã porque os textos sagrados afirmam a existência de muitos testemunhos propostos ao ser humano para adotar um planejamento de vida resignado. Isto significa que, por meio dos apóstolos, Deus propunha uma mensagem aos homens: “confiem em mim apesar das dificuldades”. Esta ideia geral era valorizada em diversos questionamentos próprios do cristianismo: “será que isso aconteceu porque Deus quis ou porque os desígnios do Senhor são misteriosos?”.

A visão espírita mostra-nos que todo mundo tem algum tipo de sofrimento em algum momento da vida. Encontramos sofrimentos em todas as classes sociais, basta olharmos a nossa volta.

Por que sofremos? Porque vivemos num mundo de provas e expiações, onde até os animais sofrem. O mundo de provas e expiações é um mundo em que predomina o mal. Nós carregamos marcas desse mal.

Os animais são espíritos em evolução. Eles sofrem para despertar os valores psíquicos, os seres humanos sofrem para resgatar seus débitos e realizar aprendizagem no campo moral. Quando não compreendemos, sofremos duas vezes.

A dor nos irracionais não tem o mesmo objetivo que nos racionais.

Os animais sofrem e buscam recurso na natureza. No ser humano, a dor instiga-nos o lado moral, para que aprendamos a perdoar, a sermos humildes, a baixarmos a crista do orgulho e aprendermos a trilhar o caminho da compreensão.

Resignação não é acomodação, é a maneira como enfrentamos o sofrimento – ter o entendimento das razões das coisas não é ficar paralisado.

Quando pensamos na quantidade de sofrimento do planeta, nós temos que convir que precisamos trilhar o caminho da compreensão. Na medida em que sabemos disso, encaramos melhor as dores da terra com a virtude da resignação.

O Evangelho Segundo o Espiritismo diz-nos que a resignação corresponde ao consentimento do coração – é o nosso sentimento.

A pessoa resignada evita debates, embates, conflitos. Tem uma ação significativa, age com naturalidade diante das dificuldades.

O capítulo V do referido Evangelho informa-nos o seguinte: “o resultado da maneira espiritual de encarar a vida é a diminuição de importância das coisas mundanas, a moderação dos desejos humanos, fazendo o homem contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, e sentir menos os seus revezes e decepções”.

            Assim, o homem adquire uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo como à da alma, enquanto, com a inveja, o ciúme e a ambição, entrega-se voluntariamente à loucura, aumentando as misérias e as angústias de sua existência. A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena e a fé no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor antídoto contra a insanidade mental” (E.S.E, Cap. X. p. X).

            Segundo Herculano Pires, “não é conformismo que se manifesta na resignação, mas a inteligente compreensão de que a vida é um processo em desenvolvimento, dentro do qual o homem tem que se equilibrar. A resignação ou aceitação é ativa e consciente, enquanto o conformismo é passivo e inconsciente”.

            Ninguém cultive resignação diante do mal declarado e removível, sob pena de agravá-lo e sofrer-lhe a clara mortífera.

            Estudemos resignação em Jesus Cristo. A cruz do Mestre não é um símbolo de apassivamento, frente a astúcia e a crueldade, e sim uma mensagem de resistência contra a mentira e a criminalidade mascaradas de religião, num protesto firme que perdura até hoje.

            Todos necessitamos ajustar a resignação no lugar certo.

            Se a lei apresenta-nos um desastre inevitável, não é justo que nos desmantelemos em gritaria e inconformismo.

            É sempre aconselhável a revisão de nossas atitudes no setor da conformidade.

            Se aceitamos penúria, detestando o trabalho, nossa pobreza resulta de compulsório merecimento.

            Não acreditemos que a fuga possa auxiliar-nos.

            Pensemos nas reservas de força que jazem dentro de nós e aceitemos as dificuldades como se apresentem.

            Não abandonemos a nossa possibilidade de trabalhar e continuemos fiéis aos nossos próprios deveres.

            Se nenhuma iniciativa de nossa parte é capaz de resolver o problema em foco, nunca recorramos à violência, mas sim continuemos trabalhando e entreguemo-nos a Deus.

            Não nos aborreçamos com o trabalho que a vida nos confia, de vez que, por meio dele, é que atingiremos a promoção justa na escala de valores da vida.

            A resignação como sinônimo de serenidade não é uma aquisição espiritual que se faça como um toque de mágica, e sim, por meio do trabalho muitas vezes duro e áspero da paciência em ação.

            Jesus Crucificado é a imagem do amor e da dor, elementos que, conjugados, determinam e promovem a evolução dos homens. É a figura da justiça aliada à misericórdia. Primeiro reflete com admirável justeza os pecadores confessos, as almas simples, compenetradas de suas faltas, que suportam os sofrimentos e as angústias da existência com resignação e humildade, sem murmúrios nem revoltas, porque veem nessas vicissitudes o efeito das causas criadas por elas próprias.

            E depois espelha com notória fidelidade os pecadores relapsos, impenitentes e orgulhosos, que recebem a dor revoltados, murmurando e blasfemando.

            Jesus, o maior exemplo de resignação, foi o coração mais belo que pulsou entre os homens, respirava na multidão e seguia só. Possuía legiões de espíritos angélicos e aproveitou o concurso de amigos frágeis que o abandonaram na hora extrema. Ajudava a todos e chorou sem ninguém. Mas, ao carregar a cruz, no monte áspero, ensinou-nos que, das asas da imortalidade, pode ser extraído o fardo de aflição, e que, no território moral do bem, alma alguma caminha solitária, porque vive tranquila na presença de Deus.

 

Bibliografia:

1. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, 12 e Cap. IX, 8.

2. Vivendo o Evangelho –Psicografia de Antônio Badey Filho, Espírito André Luiz, págs. 149 e 150.

3. Estude e Viva de Chico Xavier e Waldo Vieira, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, págs. 147 e 148.

4. Calma de Francisco Cândido Xavier pelo Espírito de Emmanuel, págs. 24, 25, 27 e 28.

5. Nas pegadas do Mestre, Vinicius, págs. 124 e 125.

6. Palestras no Youtube.