POMBAGIRA
Médium Lisia Lettieri“A mulher notou que era tentador comer da árvore, pois era atraente aos olhos e desejável para se alcançar inteligência.” (Gênesis 2-3). E, desde o início do mundo, a mulher é vinculada ao sentimento do desejo. Desejo no sentido de querer, de cobiçar, aspirar, de se sentir estimulada a comer o fruto proibido por Deus no jardim do Éden. Fruto esse que simbolizava o conhecimento, a distinção entre o bem e o mal... era o querer mais.
A energia feminina tem suas particularidades, assim como a masculina tem as dela. E, não é à toa, que existem entidades que se especializam nessa área de atuação: os nossos desejos. Não restrinja a palavra “desejo” ao sentido sexual, muito menos às mulheres. Todo ser humano possui suas aspirações: ter uma casa melhor, ter um bom emprego, ganhar mais, ter mais conhecimento, ser mais paciente, ser uma pessoa melhor, ter um relacionamento saudável... poderíamos citar inúmeros exemplos.
A questão é: todos nós apresentamos carências em alguma área da vida, e essas carências nos estimulam a querermos mais. E isso não é errado. Querermos melhorar, ansiarmos por algo que nos dê satisfação não é ruim. Esse sentimento é fundamental para nosso crescimento, quando ele está pautado numa base sólida. Quando dispomos de recursos próprios que não firam o próximo. Por exemplo, posso desejar ter um emprego melhor e buscar meios para que isso aconteça, seja estudando mais, me especializando ou procurando um novo local de trabalho. O que não é certo é querer exatamente o cargo de outrem, de forma que outra pessoa precise perder o dela, para que eu consiga estar lá.
É com esse raciocínio que devemos saudar as pombagiras. Entidades que se manifestam na roupagem feminina e que se ligam ao nosso chacra básico (local onde absorvemos a energia mais terra a terra, que abastece todo nosso corpo, nos dando mais vitalidade).
Quando uma pombagira se manifesta, não é isso o que vemos? Desenvoltura, liberdade de expressão, uma vontade de viver. A gargalhada que se ouve é contagiante e cheia de vida. De desejo! Para viver, e não apenas sobreviver, é imprescindível que tenhamos um objetivo, mesmo que ele seja mutável. Que nos sintamos atraídos por algum projeto, sonho... algo que alimente o espírito, que nos dê vontade de ir além.
Quando desejamos alguma coisa, seja material, sentimental ou até mesmo espiritual, a mente direciona o pensamento para o objetivo cobiçado, e os corpos material e astral trabalham juntos, produzindo energia para plasmar o que ainda é só intenção. Plasmar é dar forma aos sentimentos e pensamentos, como se tornássemos concreto, no mundo espiritual, o que almejamos.
É dessa forma que as damas do terreiro trabalham, abastecendo nosso ponto de força básico para que essa energia se transforme em desejo, e essa vontade ganhe força astral e possa se concretizar. Por isso, se vincula tanto o trabalho das entidades de esquerda com a energia sexual. O chacra básico é muito sensível aos estímulos, portanto, vai de nós, médiuns, sabermos direcionar essa fonte energética para os nossos objetivos de uma forma saudável e produtiva.
A sensualidade que essas entidades transmitem e as gargalhadas que contagiam são a forma mais pura de estimular e demonstrar o quanto se faz necessário que a gente se sinta dono de si, com vontade de viver e capaz de conquistar aspirações. Cobiçar pode ser um pecado quando não se tem escrúpulos, mas, quando existe o respeito próprio e com o próximo, o universo conspira a nosso favor.
Ter o que se deseja está relacionado aos nossos méritos, e manter o que se ganhou, à forma como trilhamos o caminho para chegarmos até ali. Por isso, dizem: “Cuidado com o que se pede. Você pode conseguir”. Assumirmos as consequências dos nossos atos é um processo, às vezes, doloroso, no qual os espíritos protetores nos acompanham de perto.
Assim como exu, pombagira atua como guardiã e executora da lei. Ela pode auxiliar na conquista do que buscamos, mas também vai cobrar pela retidão das nossas atitudes para alcançarmos o objetivo. Saber ter limites e dosar o que queremos, diferenciar se aquilo nos faz bem ou mal fazem parte do nosso processo de autoconhecimento.
Comer do fruto proibido é ir contra o aviso daquele que nos guarda, mas é algo que trará conhecimento futuro pela experiência vivida e da qual não se pode anular as consequências. Não é porque as pombagiras são entidades de luz, que vão evitar que colhamos o mal que, porventura, tivermos semeado em nosso caminho.
Laroyê, Pombagira.