O que você sente quando a música começa nos trabalhos do ACVE?

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“Toda vez que toca a música, seja qual for, eu sinto um arrepio. Mas, um arrepio bom. Passa uma coisa muito positiva e muito intrigante”. Rafael Soares Lino, Consulente.

“Eu sinto alegria... Porque a gente vê que tá indo pra um lugar e várias coisas tão acontecendo ao mesmo tempo com a música da Curimba. Lá no Terreiro tem que incorporar com os velhinhos. Aí, como é que vão chamar eles? A música chama os pretos velhos, abre um portal”.  Valentina de Orem, 9 anos, médium, 1 ano e meio no ACVE.

Cada um, a seu modo, pode ter uma opinião sobre a batida dos atabaques e as mensagens musicadas no decorrer dos trabalhos realizados em um Terreiro. Interessados em saber sobre essas percepções, entrevistamos  alguns médiuns, crianças e adultos, e consulentes, no intuito de saber o que eles pensavam em relação à música na Casa. Embora cada resposta tenha sido amorosamente particular, algo transpareceu de maneira compartilhada: a música é transformadora da atmosfera e uma energia cativadora de múltiplos sentimentos. É nesse sentido que, agradecendo antecipadamente as várias contribuições dos entrevistados, aproveitaremos para refletir um pouco mais sobre o papel da música nos trabalhos da Casa Ação Cristã Vovô Elvirio (ACVE).

“Eu não sei se é porque a gente é médium, o negócio já pega logo fogo. O negócio fica é quente. Eu acho muito bom. A gente quando tá lá, na Consulência, como se fosse um chamado. Que Eles estão presentes. Foi o que eu senti quando cheguei na Casa.” Margarete da Silva, médium, há 1 e 6 meses no ACVE. 

“Quando a gente tá sentado ali, a gente vê que a energia tá diferente. Mas, quando a Curimba toca, tudo muda, tudo se alegra, tudo fica mais forte”. Sabrina Siqueira Oliveira, Consulente. 

Abertura de portais, energia potencializadora de conexão, de forças e de concentração.  O que você sente quando a música começa nos trabalhos do ACVE? 

“Quando começa aquele barulho do atabaque, eu não sei o que acontece. Eu acho que se não tivesse a música, eu não me sentiria tão conectada ao meu povo. Eu sou louca com o barulho do atabaque”. Ana Gabriela do Nascimento, médium, há 1 ano no ACVE.

 “A música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos”, já dizia o grande músico Beethoven. Da profunda calma e introspecção até um intenso êxtase e agitação, a música coloca-se como um recurso concreto e prático para o direcionamento das energias relacionadas ao trabalho mediúnico.  

“No geral, pra mim... Eu fico mais concentrado. Tem horas que eu fico muito feliz, tem horas que eu quero mais foco. Tem música que acalma também, mas o que eu mais sinto é mais ânimo e foco.” Guilherme Martins, médium, 1 mês no ACVE. 

“É uma coisa bem especial, eu acho. Pra mim, particularmente, dá todo o toque de magia.” Thayanne Siqueira, médium, há 15 dias no ACVE. 

Podemos perceber que a música é capaz de agir nas esferas pessoais, bem como, enquanto mecanismo modificador da atmosfera do trabalho, no ambiente como um todo. 

“O Terreiro antes fica tumultuado, quando a Curimba começa a tocar quebra isso e fica uma energia mais positiva. Flui mais”. Ian de Castro, 11 anos, médium, há 1 ano no ACVE. 

De maneira geral, algo é comum e inegável: temos uma relação íntima com a música, a ela somos sensíveis e com ela somos sensibilizados. É nesse sentido que a importância da música se destaca nos trabalhados ritualísticos realizados no ACVE. Com ela somos, sobretudo, mobilizados para o trabalho com a espiritualidade. 

“A energia dos atabaques, a energia da música puxando o axé, a força... Você vê que a energia muda, o axé aumenta, a força aumenta. Você vê que é diferente quando tá sem música.”. Vinícius Barbosa, médium, há 4 anos no ACVE. 

A música se permite e se constrói nas emoções, por isso, amplia o nosso sentir e favorece o nosso agir como recurso para o trabalho espiritual. 

“É uma vibração muito forte. É uma energia que cativa as pessoas. A música para o Terreiro é essencial. Tem que ter, porque alegra não só a gente, mas o clima fica mais alegre, fica bem bonito”. Leonardo Ferreira, médium, há 6 meses no ACVE. 

O Brasil tem uma cultura muito musical e a Umbanda, como religião brasileira, não poderia ser indiferente a esse atributo tão forte. Todavia, é preciso ressaltar que ela não pode ser vista como obrigatória para que o trabalho efetivamente aconteça, ainda que seja um ingrediente favorecedor das várias conexões (senti)mentais e espirituais. 

“Quando o toque da Curimba entra, ele faz um movimento de energia de sustentação. Traz essa energia e facilita o trabalho de conexão, de ligação com as entidades. Mas, o que a gente tem que entender, enquanto médium, é que a gente deve estar preparado pra trabalhar de qualquer jeito. Não posso dizer assim: ”Eu só consigo incorporar se o ponto da Entidade tiver tocando”. Mas traz uma energia e eu acho que contagia, contagia muito”. Rogério Barbosa, médium, há 4 anos no ACVE. 

E, para além de uma percepção individual, a música tem um papel de promover a união do grupo mediúnico, deixando-o mais harmonioso, a partir de um padrão vibratório comum, e auxiliando no direcionamento das energias necessárias. 

“A música tem um poder muito grande, tanto de concentração quanto de força mesmo pra uma determinada coisa. Por exemplo, preciso da concentração dos médiuns para juntar uma força pra Exu. Eu acho que a música tem esse fator que faz, naturalmente, as pessoas vibrarem na frequência que a Entidade dirigente precisa”. Gabriela Queiroga, médium, há 3 anos no ACVE. 

“É a hora que eu me sintonizo melhor com a Casa. A música pra mim é o que realmente me liga com o alto”. Ana Maria de Castro, médium, há 1 e 5 meses no ACVE.

Na Casa, o espaço principal promovedor da música é a Curimba que, durante as entrevistas, foi lembrada de maneira muito especial: 

“Eu percebo que é um ponto de descarrego, um ponto de força da nossa Casa. Desde o primeiro dia, eu fui como Consulente, quando eu vi a Curimba bater, eu me arrepiei. É um sentimento que, cada vez que ela bate, cresce”. Arlen, médium, há 3 anos no ACVE.  

Para os médiuns, a Curimba também é uma oportunidade de estabelecer um vínculo com a música e com os instrumentos musicais aprendendo sobre sua importância como recurso para o trabalho espiritual, independentemente de idade ou experiência musical.

“Eu gosto de ficar na Curimba e no Congá. Eu gostava de ficar na Curimba porque lá eu tocava instrumento”. Maria Beatriz Macedo, 8 anos, médium, há 3 anos no ACVE.

“Eu acho que a música é essencial. Eu não sei se as pessoas entendem qual é o propósito. Eu como médium não espero que a Curimba seja com cantores profissionais, eu espero que ela esteja ali trabalhando de coração aberto e que o ritmo esteja dentro do que as entidades precisam pra realizar o trabalho”. Glauce Melo, médium, há 5 meses no ACVE.

A Curimba coloca-se como um espaço de diálogo entre ambiente mediúnico e a Consulência: 

“Eu me emociono muito, eu acho muito bonito, faz toda a diferença. Pra mim a Curimba é uma coisa inexplicável. Nos dias que ela tá com o axé muito forte, faz toda a diferença, principalmente pra quem está na Consulência. Da última vez que estive lá, senti muita falta da participação da Consulência. Porque na minha época de Consulência, a gente cantava junto, a gente batia palma se não sabia as músicas, mas, a gente ajudava nesse axé. Eu acho que a Curimba podia puxar um pouco mais da Consulência, não só dos médiuns... para poder animar a galera!”. Daniele Barbosa, médium, há 4 anos no ACVE. 

Quem canta, quem ouve, quem ouve e canta a música também se mostra como um meio acolhedor e motivador para os que frequentam a Casa: 

“Eu entrei lá, quando eu vi aquela Curimba tocando, eu... pronto! É aqui que eu vou ficar! Não saio mais! Porque eu sou da Umbanda desde que eu nasci. Eu fui batizada na Umbanda. Mas não tinha Curimba. Quando eu vi aquela Curimba, foi amor à primeira vista”. Anna Paula de Castro, há 1 e 4 meses no ACVE.  

A música possui um potencial envolvente por (re)direcionar emoções, movimentando-as e motivando sentimentos. É importante ressaltar a necessidade de estar aberto, receptível, para aproveitar ao máximo todas essas benesses que ela possa permitir. 

“Não é só a Entidade em si que trabalha com o irmão consulente que vai lá. A música também é fundamental para o tratamento. A música é um tratamento. A Arte em si é um tratamento. A música alcança lugares que, às vezes, um irmão não consegue chegar. Então, a música, ela tem também esse papel: alcançar alguns irmãos para ajudá-los nessa jornada”. Marcela Vieira, médium, há 2 no ACVE. 

A música coloca-se como essência mobilizadora, nem sempre é possível explicar de maneira exata, precisa ser sentimento pautado pelo amor: 

“É uma questão muito de sentir. Não dá muito pra você transmitir na palavra o que você sente na hora. Entende? É uma coisa que parece que vibra dentro de você. Eu acho que é muito de sentir. Vem a emoção e você sente em cada célula, você sente no seu corpo”. Rafaela Spach, médium, há 2 anos no ACVE.  

A partir dessas entrevistas, o que se destaca nas reflexões sobre a música é que ela salta ao coração, mais do que aos ouvidos e aos olhos: a primeira engrenagem que precisa movimentar é a dos sentimentos pautados pela Lei de Amor e para o serviço ao Bem.

 

As entrevistas foram realizadas em 25 de julho de 2015, durante a preparação do espaço onde ocorreu a festa junina e durante a festa junina. As entrevistas realizadas com crianças tiveram publicação autorizada pelos pais e/ou responsáveis.