Pretos-velhos
Médium Sabrina Siqueira
“Que fumaça cheirosa, vovô, que sai do seu cachimbo, não sei se é arruda, vovô, ou manjericão, só sei que essa fumaça, vovô, faz bem ao meu coração”. Faz um bem danado mesmo conversar com um preto-velho, mais conhecido como vô e vó nas giras de umbanda, principalmente pela diferença que sentimos na harmonização dos sentimentos e pensamentos depois de uma boa conversa com esses espíritos tão elevados e cheios de luz.
Na umbanda, são esses maravilhosos guias espirituais que nos auxiliam, amparam e que sempre têm uma palavra de consolo e aconchego.
O dia dos pretos-velhos é comemorado em 13 de maio, justamente o dia da abolição da escravatura no Brasil, que, por meio da Lei Áurea, tinha intenção de extinguir o trabalho escravo e oficialmente declarar livres todas as pessoas que eram mantidas sob os domínios de seus “donos”.
Debaixo do chicote feito de pelo de rabo de cavalo, apanhando no tronco, debaixo de sol e com trabalho quase que ininterrupto nas fazendas de cana-de-açúcar e café, passando por terríveis privações e provações, não recebiam quase nada em troca. Para você ter uma ideia do quanto era sofrido, a expectativa de vida de um negro não chegava a 10 anos à época. Já que não tinham nada, restava se agarrarem à fé e ao poder da oração, uma forma silenciosa de mantê-los vivos e protestar contra a opressão à qual eram submetidos.
Alguns desses espíritos depuraram seus sentimentos, perdoando àqueles que lhes fizeram o mal e resgataram seus carmas. Hoje estão sempre prontos a nos ajudar e estender a mão para aqueles que precisam e querem ser ajudados.
Mesmo com todo sofrimento, trabalho e martírios aos quais eram submetidos, foram espíritos que tiveram que aprender a não se abater, nunca perderam a fé e sempre acreditaram que, depois da tempestade, vem a bonança; que a justiça divina não tarda, nem falha, age sempre na hora certa. E foi através da vivência, da experiência e da fé que eles se tornaram nossos psicólogos do astral, conselheiros espirituais e médicos da alma, que desenvolvem em nós uma sensibilidade sublime e majestosa.
Quando sentamos diante de algum preto-velho, estamos na frente de espíritos de elevada vibração espiritual e que estão ali para nos ensinar os mais puros e verdadeiros sentimentos, a lidar com as mudanças da vida e com as dificuldades que surgem. São mestres em indicar direções e acalentar nossos corações.
São essas entidades que se manifestam em forma de vovôs e vovós, que foram escravizados nas senzalas, onde, mesmo com todas as penúrias da vida, desenvolveram uma forma única de consolar através das palavras, do amor, da humildade e da resiliência. Apresentam-se como pretos-velhos para representar a humildade, a simplicidade e nos ensinar lições de vida, como a prática do perdão, do amor ao próximo e da paciência, sempre extremamente pacientes e bondosos.
Geralmente trabalham sentados, pitando um cachimbo ou um cigarro de palha, num trabalho constante de amor e de paciência, mandingueiros poderosos, demandam contra qualquer tipo de sentimento negativo, pacientemente escutam a todos, independentemente de idade, sexo ou religião e, com a vivência que possuem, sempre hão de ter alguma palavra de consolo.
É importante lembrar que nem todo espírito que se mostra como preto-velho foi um escravo. Podem ter sido ricos, pobres, filósofos, médicos (que é o caso do nosso dirigente espiritual Pai Leopold, em sua última encarnação), professores, etc. Revestem-se de um envoltório espiritual para simbolizar, dentre muitos, dois atributos que já relacionamos a eles: a humildade e a sabedoria. Em nosso cotidiano, consideramos as pessoas mais velhas como sábias, que já viveram experiências e histórias e consequentemente nos aconselham e orientam em qualquer situação. No mundo espiritual, não é tão diferente. São espíritos que, diante de várias encarnações, aprenderam muito e tentam nos passar seus ensinamentos.
No ACVE, comemoraremos o dia dos pretos-velhos neste ano, no trabalho do dia 12 de maio, com uma deliciosa feijoada, para médiuns e consulentes. A feijoada está diretamente ligada à história dos pretos-velhos, pois tem como ingredientes básicos feijão e partes do porco e esses eram um dos alimentos mais acessíveis aos negros na época. O feijão, por ser de fácil plantio e colheita; e as sobras de algumas partes do porco (pé, orelha, rabo, língua, costela, etc), porque eram dispensadas pelos brancos, consideradas, talvez, desnecessárias para o sustento deles. Os negros conservavam essas partes no sal, cozinhavam junto com o feijão e assim nasceu a famosa feijoada, prato tipicamente brasileiro, negro e histórico.
Portanto, ao sentar para conversar com um preto-velho, saiba falar, ouvir e, principalmente, ter a humildade de saber que o princípio de qualquer melhora está dentro de você. Eles ajudam sim, e muito, mas é necessário que você se ajude e queira melhorar, aprendendo que o melhor caminho para a felicidade é o caminho do amor, do perdão, da caridade e da humildade e o primeiro passo é você quem dá.
Fontes:
http://trabalho-escravo.info/a-historia-da-escravidao-no-brasil.html - Acessado em 22/04/2018
http://irmandadeumbandistaluzdearuanda.blogspot.com/2014/06/feijoada-de-preto-velho.html - Acessado em 25/04/2018
https://www.infoescola.com/historia/escravidao-no-brasil/ - Acessado em 22/04/2018.
https://hugolapa.wordpress.com/2012/01/24/pretos-velhos/ - Acessado e 27/04/2018.