A ARTE DA GUERRA
Médium Gláucia MelloGuerra: substantivo feminino de conotação negativa por ser associado à causa de muitas mortes. Etimologicamente, guerra significa discórdia, revolta, peleja, todos com igual conotação negativa, se pensarmos nos contratempos que essas situações nos trazem. Mas e se pensarmos nos benefícios? Pode uma peleja trazer algo de bom? Toda peleja vem da necessidade de resolver algum problema, e só tem fim quando o problema é solucionado. O filósofo chinês Sun Tzu já afirmava que “o verdadeiro objetivo da guerra é a paz.” Não há mudança sem revolução.
Guerras, em seu sentido primário, acontecem todos os dias, em todos os cantos do planeta. Guerras na família, guerras no trabalho, guerras com os outros, guerras pessoais. Podemos dizer, assim, que somos todos guerreiros?
A sagrada Umbanda também tem seus guerreiros. Dentre os Orixás, Ogum é um deles. Ele é um dos três guerreiros mais poderosos de Orum (lar do Orixás). A energia desse Orixá é ordenadora e está em tudo e todos que conspiram para estabelecer a ordem e o equilíbrio; ordem de todas as coisas, inclusive de nossas vidas, tanto no aspecto material como emocional e espiritual, e equilíbrio que faz com que nos sintamos bem conosco e com o mundo. Mas, para conquistar essa ordem e equilíbrio, é preciso que haja iniciativa de alcançá-los. E como chegaremos lá? Guerreando!
Guerrear se refere a enfrentar as lutas internas e externas, encarar tudo e todos de frente, com coragem e fé. As armas para enfrentar essas batalhas são a disciplina, a autoconfiança, o amor e a caridade. Ogum dá a força para que a batalha da vida, que é inevitável, seja enfrentada com garra e confiança na vitória. Fugir dessa guerra traz tristeza, dor, frustação. Esquivar-se dela significa desistir de si mesmo, desistir de achar o caminho que te engrandece, seja ele estreito ou largo. Caminho esse que é domínio de Ogum. Podemos até nos enganar, achando que a luta é opcional, contudo, mais cedo ou mais tarde, teremos que pegar espada e escudo e partir para o campo de batalha. E lá se encontrará Ogum para nos ajudar a combatermos qualquer que seja o mal que nos assombre.
Onde houver Ogum, lá estarão os olhos da lei. Ogum protege com seu escudo aqueles que zelam pela lei e pela ordem, e ataca com sua espada aqueles que agem em direção à desordem. Ele é o pai que protege e abriga, mas também o que ensina.
Ogum é celebrado no dia 23 de abril, mesmo dia em que a igreja católica celebra São Jorge. Este santo é sincretizado com Ogum por apresentar características semelhantes às dele. O dia da semana de Ogum é terça-feira. Suas cores, em nosso terreiro, são vermelho e branco. Seus símbolos são a espada, a lança e o escudo. É o Orixá ferreiro, que domina os campos abertos e todos caminhos.
Ogum é o Orixá patrono do ACVE, o que nos torna uma casa de disciplina. Todos os participantes de nossos trabalhos, sejam eles médiuns da corrente ou consulentes, estão sempre sob a luz da proteção de Ogum, que cuida, mas também cobra como o pai zeloso e rígido que é.
Portanto, meus irmãos, estejamos cientes de que toda atuação energética funciona tanto ativamente como passivamente. Quando pedimos a força e proteção de Ogum, devemos nos esforçar para sermos sinceros e corretos perante todos, agindo dentro da lei. Dessa forma, seremos merecedores de suas bênçãos.
Ogunhê
“Ogum, meu Pai – vencedor de demanda, grande guardião das Leis -, chamá-lo de Pai é honra, esperança, é vida. Vós sois meu aliado em combate às minhas inferioridades. Senhor, Vós sois o domador dos sentimentos espúrios. Depurai, com Vossa espada e lança, minha consciente e inconsciente baixeza de caráter. Ogum, irmão, companheiro e amigo, continuai em vossa ronda e na perseguição aos defeitos que nos assaltam a cada instante. Glorioso Orixá, reinai com Vossa falange de milhões de guerreiros vermelhos e mostrai, por piedade, o bom caminho para o nosso coração, consciência e espírito. Despedaçai, Ogum, os monstros que habitam nosso ser, e expulsai-os da cidadela inferior.” Que assim seja!
Patacori Ogum!