Um E outro: Os opostos se complementam

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É comum nos depararmos com anseios pela busca do equilíbrio. Mas o que envolve essa “busca”? Para alguns, “um desafio”; para outros, “uma jornada”; para tantos, “uma batalha”. Talvez todos possam concordar que o equilíbrio faz parte da nossa evolução e que representa uma tarefa complexa. Por isso, também é uma das coisas de que necessitamos aprender enquanto habitantes do Planeta Terra, ambiente de provas e expiações que abriga, por natureza, seres em processo de aprimoramento. Nessa dimensão nascemos e, a depender de cada cultura, desenvolvemos diferentes modos de vivermos e convivermos. Assim, em meio aos múltiplos elementos dos quais a vida se compõe, muitas vezes, nos acostumamos com a lógica do “ou um ou outro” para fazermos as escolhas que tocam a vida.

Geralmente, pensamos como um sistema binário, organizamos em dois, de modo que um represente o contrário do outro. Cotidianamente, nos habituamos a esse dualismo de forma fragmentada, no qual as ações funcionam pela lógica da exclusão: ou claro ou escuro, ou luz ou sombra, ou quente ou frio. Onde fica o espaço para os diversos e diferentes elementos da vida? Onde fica o (co)existir nesse universo de tanta diversidade? Não seria o equilíbrio justamente conseguir articular tais elementos, harmonizando o que, a princípio, apresenta-se como oposto? Então, demoramos a compreender que, nessa lógica, quando há espaço para apenas um, perde-se a oportunidade do outro. Pois também nos acostumamos a transitar entre polos e a tocar a vida, permanecendo em extremos que, geralmente, entendemos como distantes e isolados.

Por consequência, os múltiplos, os diversos, os diferentes também ficam limitados. Viver/conviver parece difícil, muitas vezes, doloroso. E o que, com os outros, parece difícil, internamente, torna-se ainda mais. Então, buscamos equilíbrio: desafio, jornada, batalha, evolução... Cada um com sua definição particular. É preciso perceber que o equilíbrio consiste em articular os diversos e diferentes elementos que compõem a vida e, principalmente, nós mesmos.

Se pararmos para pensar um pouco mais, perceberemos que, todos os dias, fazem parte de nós, por exemplo, a alegria e a tristeza, a coragem e o medo, a tranquilidade e a raiva e outros sentimentos/sensações que, a princípio, compreendemos como opostos e acreditamos que não deveriam coexistir. Nossa dificuldade não está em conseguirmos fazer existir um e apagar o outro. A grande questão está em como dosarmos cada um deles para sairmos da estagnação e movimentarmos a vida, de preferência, para frente.

Por isso, o equilíbrio é harmonioso, mas sobretudo, dinâmico e constantemente ativo. Há um ditado inspirado em uma lei da física, para explicar a interação de cargas elétricas, que diz “os opostos se atraem”. Com esse ditado, podemos entender mais do que uma junção entre o lado negativo e o lado positivo, por exemplo, quando fazemos o experimento com um imã. Em uma corrente elétrica ou à pilha, também podemos perceber a importância da relação desses opostos, entre positivo e negativo, e como tal interação faz com que a eletricidade funcione de fato.

Então, podemos entender que os opostos se complementam. A parte que nos exige aprendizagem está em como organizar isso, já que a tarefa realmente não é tão simples como parece ser a compreensão do lado + e do lado – de uma pilha. Isso leva tempo e depende da história de cada ser humano em sua jornada evolutiva.

Podemos perceber o equilíbrio na harmonia entre o claro e o escuro, a luz e a sombra, o quente e o frio, a alegria e a tristeza, a coragem e o medo, a tranquilidade e a raiva. Cada um deles exerce papel e valor diferenciados, mas tem sua importância para nos movimentar perante a vida. É a nossa percepção sobre cada um deles, o modo como lidamos com cada um dentro de nós e nos momentos da vida que trará o tão grande aprendizado. Aquele pensamento binário, fragmentado e excludente atrapalha e nos faz sofrer. Pois o equilíbrio não se encontra na exclusão, e sim em como articulamos os diversos “uns” e “outros” que existem em nós e em nossas vidas.

Embora o exercício comece em grande parte dentro de nós mesmos, como membros da Humanidade e seres coletivos, não carecemos de realizá-lo inteiramente sozinhos. Podemos aprender uns com os outros e a espiritualidade sempre se coloca disposta a nos auxiliar nessa tarefa real, complexa e necessária.  Ela nos acolhe, nos estende a mão e nos orienta a compreendermos melhor os caminhos, trilhá-los com nossos passos e crescermos ao longo do percurso. Perceber os polos a partir de uma perspectiva harmoniosa e agregadora faz parte de nosso aperfeiçoamento. Vivenciá-los assim pode parecer complexo, mas também é possível e engrandecedor.