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NANÃ BURUQUÊ

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“O meu silêncio é uma singela oração à minha santa de fé”. Esse trecho da canção “Cordeiro de Nana”, do grupo musical Os Tincoãs, remete à forma mais simples e ao mesmo tempo tão difícil de buscar sintonia com a energia de Nanã.  O silêncio, ou melhor, a atitude de silenciar, permite que se abra a porta por meio da qual cada ser pode entrar em contato com a própria realidade íntima.

Com esse gesto, cada um tem a oportunidade de perceber, em seu interior, todas as belezas das virtudes conquistadas e todas as sombras que ainda pairam numerosas. Oportunidade sem igual de se conhecer, se perceber, de refletir, de vivenciar as emoções que tantas vezes passam despercebidas, de reconhecer em si e valorizar as qualidades e potencialidades já desenvolvidas. Possibilidade também de reconhecer-se algumas vezes mesquinho ou vaidoso, invejoso ou melindroso, enfim, humano, falível.

Em meio a essa dualidade que faz parte da realidade íntima de todo indivíduo em nosso plano, a atitude de silenciar requer tranquilidade e boa dose de paciência para aceitar a condição natural e passageira do nosso estado de imperfeição.

A atitude de silenciar, em oposição à atitude de reagir ou responder de imediato, também resguarda forte sintonia com a energia de Nanã. Não o silêncio que pretende provocar, tratar mal ou menosprezar, mas o silêncio que, com a tranquilidade de quem já se compreendeu e se aceitou com todas as qualidades e imperfeições que possui, tornou-se também capaz de respeitar o momento de cada um, de aceitar o outro com tudo que o constitui.

Nanã é a representação da paciência e da resignação construídas a partir da aceitação da condição de imperfeição e da conscientização do enorme potencial de aperfeiçoamento que cada ser carrega em si.

É, sobretudo, a sabedoria que a experiência e a maturidade fazem florescer no interior de cada um. A energia de Nanã traz a ponderação da maturidade, em oposição à impulsividade jovial. Remete à profunda compreensão de que “a natureza não dá saltos”, para tudo há ritmo e tempo próprios.

Por isso, esse Orixá está sempre relacionado à velhice e à ancestralidade. A velhice traz a representação dos aprendizados adquiridos com as experiências vivenciadas. A ancestralidade carrega a força de todos os que vieram antes, aprenderam, fizeram descobertas, edificaram e, entre erros e acertos, lutas e derrotas, dores e alegrias, prepararam o caminho para que a vida se apresentasse mais generosa aos que viessem depois.

Nanã Buruquê é energia divina que possui como pontos de força na natureza as águas paradas, os lagos, a lama que se forma à beira dos rios e em suas profundezas. Orixá das águas, com forte presença do elemento terra, constitui energia que proporciona a transmutação de sentimentos, valores, emoções e carmas.

Água e terra, então, constituem os elementos naturais que bem representam a energia desse Orixá. A água, com sua propriedade de absorver e conduzir energia, absorve o que há de negativo não apenas em nós, mas também na atmosfera do nosso planeta, que fica poluída por diversas formas-pensamento negativas que emitimos. Por que será que há tanta água na constituição do nosso Planeta? A terra, com sua capacidade de atração e transformação, recebe descargas energéticas, retém a impureza e liberta a pureza, funcionando como filtro magnético e proporcionando a transmutação energética.

A partir do conhecimento das propriedades magísticas desses elementos, podemos buscar a compreensão de como a vibração desse Orixá terra/água pode atuar em nossas vidas, no nosso dia a dia. Rubem Saraceni identifica e explana dois papéis fundamentais do Orixá Nanã: decantação e maleabilidade.

Decantação é um processo químico, por meio do qual os elementos de uma mistura são separados de forma que o menos denso fique na superfície e o mais denso se instale no fundo do recipiente. A atuação da energia de Nanã, de forma parecida com o que ocorre no processo químico descrito, limpa nosso espírito de negativismos, da energia densa que ainda nos envolve, resultado de nossa imperfeição, fixando-os no barro (elemento água/terra, de caráter absorvente) e transmutando-os, de forma a nos dar condições de recomeçar.

A maleabilidade, como o próprio nome diz, remete à ideia da flexibilidade necessária para que as mudanças ocorram. Quando estacionamos em faixas vibratórias negativas e insistimos em condutas igualmente negativas, nos tornamos inflexíveis, impermeáveis às novas ideias que poderiam auxiliar na modificação de nossa conduta. Neste caso, a energia de Nanã atua de forma a nos conduzir a situações que proporcionem os aprendizados e reflexões necessários, para que reavaliemos e modifiquemos nosso posicionamento diante da vida e das possibilidades que ela nos apresenta.

A atuação de Nanã, compreendida a partir dessa perspectiva, está diretamente relacionada à preparação de nossos espíritos para a reencarnação e às situações que ocorrem em nossas vidas, nas quais percebemos algum aspecto paralisado, seja no campo amoroso, profissional, financeiro ou, até mesmo, em casos mais drásticos, nos quais o nosso corpo nos paralisa por meio de enfermidades que nos impedem de realizar todas as atividades às quais estamos acostumados.

Nesses momentos de “paralisação”, há muito mais movimento do que podemos conceber. Constituem convite para que operemos verdadeiras transmutações em nosso íntimo. Reflitamos sobre quais aspectos de nossas vidas percebemos paralisados, mergulhemos em nosso interior pedindo amparo à sabedoria e à paciência de Nanã para identificarmos e transmutarmos o que é necessário para que o estado de equilíbrio se manifeste em nós.

Como atua no campo emocional, a energia de Nanã também está diretamente relacionada aos processos de cura de doenças físicas. A doença, que geralmente se instala nos nossos corpos sutis, é ocasionada por acúmulos energéticos negativos produzidos em decorrência de atitudes ou sentimentos cultivados no passado ou no presente, para depois se manifestar no corpo físico. Quando o desequilíbrio chega a atingir nosso corpo, é porque já estava profundamente instalado em nosso espírito. O corpo material, nessa perspectiva, serve para expurgar as negatividades acumuladas nos corpos sutis.

A vibração de Nanã, no processo de cura das enfermidades, proporciona a limpeza dos acúmulos energéticos negativos (decantação), essa limpeza auxilia na retomada gradativa do equilíbrio da saúde física e impele à reformulação de pontos de vista e de condutas perante a vida (maleabilidade). Essa forma de atuação da energia de Nanã corrobora a ideia de que determinadas situações em nossas vidas apenas cessam quando aprendemos as lições que vêm nos ensinar.

Envolvidos nessa energia de amor e tranquilidade, podemos vivenciar as experiências que a vida oferece, de maneira a refletir sobre como temos nos comportado diante dos desafios do caminho e qual a melhor forma para promover as mudanças necessárias.

Que a sabedoria emanada de Nanã possa nos guiar na direção dos aprendizados que necessitamos e da maturidade almejada.